quarta-feira, 4 de junho de 2008

Para que ensinar sociologia e filosofia*

Não é mera oportunidade, é momento de mostrar que não se trata de ideologia, mas de que contra argumentos não há falácia e nem discurso conformista para fazer com que a mente não se aquiete. Uma vitória, a primeira de muitas, foi conquistada recentemente com a inclusão e obrigatoriedade das disciplinas de Sociologia e Filosofia nas escolas de Ensino Médio (públicas e privadas).

Mas a vitória não se trata apenas de termos conquistado um espaço a mais no mercado de trabalho. Trata-se de levarmos o questionamento, a dúvida e a incerteza como ferramentas úteis à construção do ser humano, independentemente de para que lado tenda este questionamento, mas que não seja uma mera aceitação vazia e passiva de uma realidade imposta nos muros da favela que a separam das entradas dos shoppings centers. Os mesmos muros que separam os espaços públicos entre os que estão para ampliar o circo (sem pão) gratuitamente (ou em troco de umas moedas em uma praça) e os que estão com o intuito de questionar e levantar problemas do dia-a-dia que são vistos como normais.

Somos centenas ou milhares de sociólogos e filósofos formados e habilitados à função de professor, instrutor, e isso não é um mero cargo profissional, mas sim uma responsabilidade para com o que pode ser feito do futuro de indivíduos que estão, hoje, na escola sem uma perspectiva real de vida além de ser segurança de loja ou apenas um lojista. O ensino-tecnicista já toma conta da lógica educacional há tempos, e mesmo assim, executa tal papel com desastrosa performance, por falta de capacitação, comodismo e falta de incentivo. Aprende-se matemática, física e química, hoje, no ensino-médio com o intuito, simples e único, de ser aprovado no vestibular, enquanto poderiam ser passados tais conhecimentos como uma maneira de educação para a vida, para o mundo e para o próprio indivíduo. Aprender química como forma de compreender a realidade, numa educação sócio-ambiental; física como uma maneira de enxergar o mundo não apenas como uma obra material ou divina, mas como um conjunto de fatores interdependentes; aprender matemática como uma forma de ler a realidade e não apenas de reproduzi-la por meio de cálculos financeiros e economicistas que reduzem a vida a propósitos meramente materiais vulgares e desnecessários.

A coluna publicada no “blog” de Reinaldo Azevedo, dia 3 de junho, no site da Veja (trupe do Olavo de Carvalho) denominada Cuidem de suas crianças. Os molestadores ideológicos vêm aí” traz à tona um questionamento vazio e fascista sobre a inclusão da sociologia e da filosofia no currículo obrigatório de Ensino Médio. Aponta tais pensamentos como “submarxistas” reduzindo-nos a uma subcategoria com o propósito de difamação, amedrontamento da sociedade leitora de seu lixo (denominado revista) a fim de formar uma opinião negativa sobre o que vem a ser um pensamento crítico. Qualifica-nos como portadores de lixo retórico e ideológico, e insinua que professores de outras matérias (história, geografia) seriam improvisados na função, e que, assim como já são (de acordo com ele) desqualificados, o ensino seria mais prejudicado.

Portanto, acredito que, não basta ensinar ao corpo dissente o que disse Hegel, Marx, Proudhon, Weber ou qualquer outro, mas que a principal função do professor seja, mesmo, trazê-los à realidade como possibilidades de desmistificar uma sociedade falseada em pré-julgamentos e preconceitos. Evitarmos as cartilhas políticas e não cairmos na mera educação valorativa e ética, mas ao contrário, fazer da dúvida a única certeza perante um discurso, uma ordem estabelecida e uma ideologia, que é, de fato, a ideologia dominante e prisional, a qual castra as liberdades e potencialidades dos indivíduos e classes subjugadas de se constituírem de acordo com seus anseios. Permitir que aprendam a voar por si mesmos sem que vejam no professor o portador da verdade e, principalmente, no Estado ou no Capital, o abrigo que precisam para alcançar uma vida segura, digna e livre.


* Bruno C. Muniz Reis é graduado em Ciências Sociais, com Licenciatura Plena, pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

4 comentários:

Cá Minervino disse...

Fala bru!!
venho aqui primeiro dar os parabens pelo texto...muito lúcido e bem articulado!!
É com muita irritação que acabo de ler o blog do "fulano"! Incrível como eles têm o discurso na ponta da língua para defender o status quo, como são aversos as mudanças e como incomoda o fato de aqueles com um pensamento crítico fazerem parte da Instituição que só vem emburrecendo nossas crianças.
É bem verdade que não podemos nos colocar como os salvadores da "pátria", mas acredito que foi uma grande conquista e devemos ocupar esses espaços, que são tão preciosos; estar em contato com o jovem e poder instigar a dúvida e fazer refletir!

Bom fico por aqui!
E sociólogos de plantão está na hora de sair do gabinete!

Gnde bjo

Camila

Rodrigo disse...

Belo texto...

Infelizmente oirtadores de discursos como que você criticou tem voz por meios midiáticos tão expressivos e embrutecedores. Mas está mais do que claro que é a direita falando para quem mal sabe o que significa direita.

Lembrando que além de posicionamento político, falta respeito a toda uma classe, como se os burocratas de plantão da trupe dele, fosse a salvação do Brasil, eles sim, são literalmente "o fim da história".

Anônimo disse...

Brunão!!! Parabéns!!

Excelente texto e parabéns por esse blog (também!!! rsrsrs )

Abraço!

Anônimo disse...

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