quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

um brinde à diversidade

Vira e mexe, dia após dia, é só você estar usando uma coisa que fuja aos padrões do certo e comum, pronto, você é questionado. Já aconteceu comigo, já aconteceu com você, acontece com todo mundo, todo dia a toda hora.
Isso não é novidade pra ninguém (se for pra você, que pena pra você), mas o que quero falar trata-se de algo interessante e que me deixou um tanto quanto emocionado recentemente.
Bem, como alguns aqui sabem, sou aficcionado por futebol e, como um rapaz latino-americano que sou, simpatizo por equipes de futebol de outros países além das brasileiras. Assim sendo, sou admirador do futebol argentino, por sua tradicional e conhecida garra, malícia, catimba e qualidade técnica com a bola nos pés.
Sem mais enrolações, tenho minhas camisetas da Argentina e uma do Boca Juniors (clube Argentino de muita tradição e bela história). Porém sou brasileiro e, mas que diabos um brasileiro faz ao vestir um manto de tamanhos rivais que são os argentinos? É um herege!!
Bem, bem, bem... Infelizmente nos vemos apenas como rivais e não podemos ser irmãos, devido a algum tipo de orgulho e disputa imbecil de quem é quem é, e sem saber reproduzimos tal mentalidade de rivalidade no nosso dia-a-dia, como se rivais se transformassem e significassem inimigos. Ora, como o velho clichê: "o que seria do amarelo, não fosse o azul?". É minha forma de ver e de reconhecer a qualidade alheia sem ter de fazer menosprezo da própria e, principalmente, orgulhar-me de minha qualidade sem ter de fazer referência comparativa à alheia, de meus vizinhos ou rivais.
Bem, eis que venho ao fato: estava andando pelas ruas de São Paulo, recentemente, próximo ao terminal rodoviário Tietê e um sujeito baixo, de porte físico um tanto desproporcional (gordinho de cabeça redondamente grande) e pele avermelhada vem em minha direção falando algo que eu não entendi e, por preconceito automático, pensei se tratar de um bêbado qualquer (?).
O sujeito veio até mim, segurou a manga de minha camisa (do Boca Juniors) sujo de milho na face e beijou minha camisa, quando saiu, saiu feliz, emocionado, com um orgulho estampado em sua face e uma expressão em sua voz (não entendi o que ele dizia, pois falou em castellano-argentino muito rápido) que demonstrava enorme satisfação de ter um time (provavelmente o de seu coração) argentino ser reconhecido aqui em SP. São Paulo, terra cosmopolita porém de altíssima hostilidade para com aqueles que vêm para cá a fim de melhores situações de vida (e não pra injetar dinheiro, sujo ou não, em nossos cofres - arrombados e cheios de corrupção).
Me arrependi de tentar me afastar do sujeito e não saudar com ele sua felicidade e orgulho. Daí pensei em como o futebol é incrível, ao mesmo que pode nos tornar cegos imbecilizados e bestializados, cheios de atitudes hostís, pode nos aproximar tanto de um desconhecido apenas pelas cores estampadas em nossa camisa, no peito.
Viva a pluralidade cultural e o orgulho de ser o que é sem menosprezar o que é bom no que não nos é original e próprio.

Abraços a tod@s!!