terça-feira, 13 de março de 2007

Grades às idéias livres e ousadas

Estive pensando e, hoje em sala de aula, refleti mais um pouco a respeito.

O ser humano é tão medroso, tão violento, tão possessivo, que seus sentimentos fazem com que ele busque aprisionar tudo aquilo que possa lhe fugir do controle. Tanto é assim que, logo que compramos algo novo, como um carro ou uma casa, tratamos de protegê-los com as mais sofisticadas tecnologias, a fim de que não soframos perdas e danos. Bem, nada mais justo, já que são as expressões de nosso esforço pessoal e dispêndio (e venda) de nossa força de trabalho. De qualquer maneira, nos enjaulamos, nos engaiolamos, nos prendemos dentro de nossas casas, por entre grades em todas as janelas de fácil acesso a qualquer "delinqüente" mal intensionado que possa adentrar em nossa residência. Assim como procuramos, não só por estética e conforto (isso já é secundário), mas por medo, aplicar o recurso do insul-film nos vidros de nossos carros (isso pra quem tem carro).

Para entendermos melhor a vida, a espécie humana procura fazer "das tripas coração" com suas mais bizarras pesquisas científicas. Tudo em nome da ciência e da evolução da espécie. Daí, vem a utilização de animais como cobaias, para a realização de experimentos e testes. E é claro, os animais estão lá, enjaulados, assim, o controle é mais fácil de ser exercido, pois não há grandes chances do animal escapar de seus limites (por nós impostos).

Bem, nada disso é novidade, e o que quero falar com tudo isso também não o é. Tudo isso que digo aponta para apenas um outro assunto ao qual me chamou atenção nestes últimos dias, que sempre pensei, mas que hoje, mais especificamente, bateu mais forte.

A nossa necessidade de controle. Essa necessidade se faz tão presente que, em todos os setores da vida social, alguma forma de controle e coerção existe. No meu caso, não consigo não pensar na questão acadêmica. Vivemos dentro de uma lógica cartesiana, na qual o conhecimento é extremamente fragmentado, até chegarmos às especializações e, por fim, perdemos total noção da amplitude sobre qualquer coisa que pretendemos compreender melhor. Nos alienamos em nossas especializações, há séculos fechamos os olhos para o que cerca uma questão, uma relação, a fim de examinarmos profundamente essa questão, somente, no seu interior. A mais pura e concentida alienação e dominação.

São as metodologias científicas, os métodos que aprendemos na faculdade para ordenarmos o pensamento e dar razão às idéias e constatações da realidade, que nos prendem e deturpam nosso conhecimento. As metodologias cartesianas, exigidas na formatação e organização de um trabalho resultante de uma pesquisa "x", aprisionam o conhecimento dentro de caixas, de salas, de solitárias, em grades enferrujadas. O conhecimento e as idéias perdem sentido coletivo e se fazem individuais e vazias, dentro de suas celas solitárias. Como um prisioneiro que tenha cometido o maior crime contra a humanidade e seja, por mal comportamento, submetido a dias de cela solitária. Como uma besta, uma fera incontrolável, qualquer forma de conhecimento que extravaze à noção cartesiana de conceber o conhecimento deve ser abatida, enclausurada, cercada, censurada, presa e dominada, para que atenda apenas aos propósitos da academia: manter o conhecimento elitizado e estagnado na academia, como sangue coagulado e rios pequenos em época de seca. Congela-se a autonomia do pensamento, prende-se a vontade da independência e cerca em um canto escuro a força da liberdade.

A Universidade, que deveria ser o antro do saber e do conhecimento, nada mais é que o aprisionamento deste. Nada além do que a cela escura, cheia de umidade, com ratos em todos os lados, da solitária cedida ao que excede a lógica e transcende à loucura seus pudores e medos. Revolucionar a Universidade e transformá-la em algo diferente, a meu ver, é o mesmo que revolucionar o Estado e dar-lhe nova função: uma missão impraticável. A Universidade não tem função que não ajudar o Estado e o Capital a manter a ordem. O Capital monopoliza os meios de produção e as riquezas. O Estado protege o Capital com a polícia, o exército. E a Universidade, de mãos dadas à Igreja e à Mídia, nada mais faz que reproduzir a lógica da sociedade dentro de sua estrutura burocratizada, elitista e dogmática, guardando a sete chaves a produção das mais interessantes mentes humanas que se arrisquem lá dentro (da Universidade) a inovar alguma coisa. Ai daquele que se arrisque a isso!! O Olimpo Universitário não suporta anjos rebeldes. Lúcifer não tem vez no reino dos céus, assim como o pesquisador revolucionário não terá seu lugar dentro da academia. Aliás, para que buscar um lugar na academia se a sociedade não está lá e, muitos, nem sequer têm acesso ao que lá se produz?

A Universidade é a cela solitária das Idéias.
A Ciência Positivista é o carrasco da Revolução.


Um comentário:

Rodrigo disse...

Ciencia positivista = minhas fezes amolecidas...

uhuowm, falow..