Não é mera oportunidade, é momento de mostrar que não se trata de ideologia, mas de que contra argumentos não há falácia e nem discurso conformista para fazer com que a mente não se aquiete. Uma vitória, a primeira de muitas, foi conquistada recentemente com a inclusão e obrigatoriedade das disciplinas de Sociologia e Filosofia nas escolas de Ensino Médio (públicas e privadas).
Mas a vitória não se trata apenas de termos conquistado um espaço a mais no mercado de trabalho. Trata-se de levarmos o questionamento, a dúvida e a incerteza como ferramentas úteis à construção do ser humano, independentemente de para que lado tenda este questionamento, mas que não seja uma mera aceitação vazia e passiva de uma realidade imposta nos muros da favela que a separam das entradas dos shoppings centers. Os mesmos muros que separam os espaços públicos entre os que estão para ampliar o circo (sem pão) gratuitamente (ou em troco de umas moedas em uma praça) e os que estão com o intuito de questionar e levantar problemas do dia-a-dia que são vistos como normais.
Somos centenas ou milhares de sociólogos e filósofos formados e habilitados à função de professor, instrutor, e isso não é um mero cargo profissional, mas sim uma responsabilidade para com o que pode ser feito do futuro de indivíduos que estão, hoje, na escola sem uma perspectiva real de vida além de ser segurança de loja ou apenas um lojista. O ensino-tecnicista já toma conta da lógica educacional há tempos, e mesmo assim, executa tal papel com desastrosa performance, por falta de capacitação, comodismo e falta de incentivo. Aprende-se matemática, física e química, hoje, no ensino-médio com o intuito, simples e único, de ser aprovado no vestibular, enquanto poderiam ser passados tais conhecimentos como uma maneira de educação para a vida, para o mundo e para o próprio indivíduo. Aprender química como forma de compreender a realidade, numa educação sócio-ambiental; física como uma maneira de enxergar o mundo não apenas como uma obra material ou divina, mas como um conjunto de fatores interdependentes; aprender matemática como uma forma de ler a realidade e não apenas de reproduzi-la por meio de cálculos financeiros e economicistas que reduzem a vida a propósitos meramente materiais vulgares e desnecessários.
A coluna publicada no “blog” de Reinaldo Azevedo, dia 3 de junho, no site da Veja (trupe do Olavo de Carvalho) denominada “Cuidem de suas crianças. Os molestadores ideológicos vêm aí” traz à tona um questionamento vazio e fascista sobre a inclusão da sociologia e da filosofia no currículo obrigatório de Ensino Médio. Aponta tais pensamentos como “submarxistas” reduzindo-nos a uma subcategoria com o propósito de difamação, amedrontamento da sociedade leitora de seu lixo (denominado revista) a fim de formar uma opinião negativa sobre o que vem a ser um pensamento crítico. Qualifica-nos como portadores de lixo retórico e ideológico, e insinua que professores de outras matérias (história, geografia) seriam improvisados na função, e que, assim como já são (de acordo com ele) desqualificados, o ensino seria mais prejudicado.
Portanto, acredito que, não basta ensinar ao corpo dissente o que disse Hegel, Marx, Proudhon, Weber ou qualquer outro, mas que a principal função do professor seja, mesmo, trazê-los à realidade como possibilidades de desmistificar uma sociedade falseada em pré-julgamentos e preconceitos. Evitarmos as cartilhas políticas e não cairmos na mera educação valorativa e ética, mas ao contrário, fazer da dúvida a única certeza perante um discurso, uma ordem estabelecida e uma ideologia, que é, de fato, a ideologia dominante e prisional, a qual castra as liberdades e potencialidades dos indivíduos e classes subjugadas de se constituírem de acordo com seus anseios. Permitir que aprendam a voar por si mesmos sem que vejam no professor o portador da verdade e, principalmente, no Estado ou no Capital, o abrigo que precisam para alcançar uma vida segura, digna e livre.
* Bruno C. Muniz Reis é graduado em Ciências Sociais, com Licenciatura Plena, pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).